Os bancos e o capitalismo
(Texto de referencia: Ladislau Dowbor, no livro “O Pão Nosso de Cada
Dia”, 2015)
Os bancos são intermediários
financeiros necessários que trabalham com dinheiro dos outros, nosso dinheiro; São
facilitadores nas transações do mundo real, nas atividades comerciais, e realizam
atividades meio, apenas conectando as atividades fins (produtiva), então, quanto mais eficientes forem,
e custarem menos, melhor.
Ocorre que estes se tornaram, nos
dias atuais, intermediários obrigatórios e são poucos, no que se transformaram
em atravessadores, com poder de travar e ou facilitar mediante altos lucros.
Devido as novas tecnologias, o
dinheiro, que é a matéria-prima bancária, hoje é imaterial, e passou a ser
representado apenas como um sinal magnético na conta ou no cartão de crédito. Do
outro lado, praticamente quem trabalha, hoje é obrigado a utilizar os serviços
de intermediação financeira para guardar, aplicar, receber os salários, receber
um valor de uma venda, ou apenas para fazer pagamentos. Esse mecanismo gerou
muito poder.
Quando em 2008 os governos deram
trilhões de dólares de dinheiro público a esses grupos privados, que tinham
realizado especulações irresponsáveis, em detrimento de políticas sociais,
salários e outros direitos, isso espantou até os mais informados.
Além desse fato, existem outros
mecanismos de apropriação do dinheiro público por esses grupos privados. A alavancagem,
é um desses mecanismos, que se permite ganhar dinheiro em cima de dinheiro que não se tem.
Essas instituições nos sugerem que se há uma poupança sendo remunerada a 3,25% ao ano e empresta esses valores a 36%, ele ganha sobre a diferença. Agora, na realidade, ele empresta muito mais, muito além das poupanças depositadas, o que é mais arriscado, mas, nas vias normais as pessoas raramente retiram efetivamente o dinheiro do banco, na prática ele empresta 9 vezes dos valores depositados (se cumprir o Acordo de Basileia II), sem pagar nenhuma remuneração.
Essas instituições nos sugerem que se há uma poupança sendo remunerada a 3,25% ao ano e empresta esses valores a 36%, ele ganha sobre a diferença. Agora, na realidade, ele empresta muito mais, muito além das poupanças depositadas, o que é mais arriscado, mas, nas vias normais as pessoas raramente retiram efetivamente o dinheiro do banco, na prática ele empresta 9 vezes dos valores depositados (se cumprir o Acordo de Basileia II), sem pagar nenhuma remuneração.
Para o leitor ter ideia o Lehman
Brothers, um dos maiores do mundo, emprestou 31 vezes mais dinheiro do que
tinha em caixa para emprestar, a custo zero, lucros fenomenais. Ganha-se muito
com a alavancagem, com dinheiro que não se tem. Tudo legalizado (!).
Outro mecanismo é o Carry Trade,
onde grupos financeiros mundiais, pegam dinheiro emprestados a 1% ao ano no
Japão e o aplicam em títulos da dívida pública brasileira, que rendem 10%. Ganhando
com as diferenças de juros sem sair da frente do computador em Genebra, e assim
realizam lucros gigantescos, e o que gera uma volatilidade mundial de fluxos
financeiros, sem nenhuma atividade econômica real por trás, e chamam isso de ‘mercados’. (Você deve estar a pensar, mas a Selic está em 2,25% aa? Ocorre que existem trilhões de reais já emitidos, circulando, a taxas muito maiores, com vencimentos para 2025, 2035, 2045...)
Existem ainda outros mecanismos
como o High Frequency Trading, que são sistemas pré-programados que realizam compras e
vendas de papeis em grandes escalas, em segundos; ou a Arbitragem, que
trabalham com pequenas diferenças de preços (de moedas (U$) em diferentes bolsas).
Essa financeirização do sistema econômico
mundial tornou a intermediação muito mais lucrativa que a atividade produtiva,
o que formou uma classe social de rentistas, bilionários que lucram com o
trabalho dos outros. Como os lucros sobre as aplicações financeiras são muito
maiores que o ritmo da evolução do PIB, isso gera uma desigualdade crescente (entre ricos rentistas e a classe trabalhadora).
No Brasil existem ainda mais
mecanismos: o cartel dos bancos, o sistema Selic e a evasão fiscal. No cartel,
mesmo informal, não existe aqui poder regulador (CADE, BACEN?) que contenha as taxas elevadíssimas
praticadas. No sistema Selic os bancos passaram décadas rentabilizando as
captações via poupança em valores menores e embolsaram a diferença. E o
terceiro mecanismo mais importante é a evasão fiscal, através dos paraísos
fiscais, e estimasse que do Brasil existem cerca de US500 bilhões aplicados lá,
com zero de tributação, aplicados por grandes players (HSBC, Goldman &
Sachs, e semelhantes), sendo administrados em Miami ou Londres (principais
praças financeiras do mundo, segundo o The
Economist).
Longe do seu papel de fomentador
das atividades econômicas, o sistema tornou-se uma especulação internacional
que trava as atividades econômicas e qualquer restrição a essa máquina lucrativa
gera reações duras, na mídia econômica e da grande mídia comercial brasileira.
Graças ao ex-presidente americano
Ronald Reagan e a primeira ministra britânica Margareth Thatcher, o último
sistema de regulação financeira mundial, criado em 1929, foi totalmente
desmantelado.
No Brasil existem duas
instituições que parcialmente cumprem ainda as funções de intermediação
financeira à produção, e que escaparam das privatizações da era FHC, e
mantiveram o financiamento ao setor produtivo do agronegócio e o imobiliário (o
BB e a CEF).
A regra que interessa a sociedade
é simples, o dinheiro deve ficar próximo de quem pode fazer algo útil com ele,
e a administração privada desses recursos públicos (poupança popular) faz com
que esses grupos possam fazer o que querem com o dinheiro dos outros.
O Estado, como principal agente
público é indispensável não só como regulador, mas como fornecedor de serviços
financeiros que permitam introduzir concorrência e racionalidade nesse sistema.
Então, da próxima vez que for
numa agência, não desconte sua indignação no vigilante ou no funcionário,
lembre-se que é o Governo Federal quem regula no Brasil, e que é esse mesmo governo que está
prometendo, em todas as entrevistas (via Paulo Guedes), vender suas duas únicas
instituições que poderiam fazer mais.
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