Organizações sindicais e a política socialista (por: Gabriel Beserra)
A formação do
sindicalismo ocorre em meados do século XIX através da luta operária com a
formação da classe trabalhadora na revolução industrial, a partir das péssimas condições
de trabalho e baixos salários, os operários, principalmente na Europa, se
organizaram em buscas da defesa de interesses homogêneos.
Mas essa
formação nunca foi, de fato, um braço direito de uma formação global do
pensamento socialista e da luta das massas frente as injustiças sociais, e pouco
representou, para além dos interesses das próprias classes operárias, os
anseios da sociedade subjugada pela burguesia capitalista.
Com a
modernidade houve a formação de uma espécie de sindicatos corporativos, um
chamado sindicalismo de mercado, que possui características pouco socialistas,
como: a busca apenas dos interesses coletivos daquela classe e sua afirmação de
identidade; uma tensão entre a defesa de seus interesses e as demais lutas mais
gerais contra a opressão; a priorização nas suas relações ‘normais’ de emprego
com a formação de contratos de empregos permanentes e, finalmente, limitação
das suas bases apenas no campo nacional e não mais internacional.
Com o advento
do Estado de Bem Estar Social os sindicatos, o patronato e o Estado, firmaram
uma espécie de contrato, que garantiu alguns direitos a classe trabalhadora e
criou mecaninismos que geraram a impressão da possibilidade de haver ‘mobilidade’
social ao trabalhador na Europa e EUA. Tais mudanças tiveram consequências significativas
no sindicalismo, que passou a ser parceiro do Estado, e causou perdas da sua
influencia junto às suas bases.
Essa nova
lógica canibalizou as velhas bandeiras do movimento operário, que acabou sendo
um reforço a economia capitalista e a fragilização do sindicalismo (Santos e
Costa, 2004).
Diante desse
cenário houve uma progressiva desfiliação, embora que no funcionalismo público
manteve-se elevado, o que se liga ao desenvolvimento de lógicas neocorporativas
nos setores mais estáveis. Há nessa classe mais estável uma espécie de
pensamento que o trabalho lhe traz uma satisfação baseado no equilíbrio e
status social. Porem esse cenário laboral entrou em decadência devido a
instabilidade devido as dificuldades das empresas com redução de efetivos,
reestruturações dos sistemas produtivos e até o fechamento completos dos postos
de trabalho com a deslocalização de muitas empresas multinacionais.
Essas constantes
inseguranças causam desilusão e frustração da classe trabalhadora, um
sentimento permanente de medo, e distanciamento da vida coletiva, fechando-se
em si próprios ou só extrapolando para a vida familiar. Essa frustração, mesmo
sendo baseada em fatos até mais fortes que no passado, geram a procura de
soluções individuais em nível profissional, e dificulta a ação coletiva.
Porem, como
toda ação tem reação, a reflexão coletiva e a sensibilidade em relação a
questão da precariedade podem fazer emergir uma nova tomada de consciência que
conduziria a novas lutas organizadas, e que precisará gerar uma reforma
organizacional desse importante instrumento de mobilização social que é o
sindicalismo, devendo se afastar desse modelo atual burocratizado, organizado,
que existe apenas para sua própria manutenção e interesse de sua cúpula
funcional, devendo, em alguns casos, de novas formações, desde seu início, para
que possa se aproximar, novamente, do interesse coletivo, e das demais novas
formas de manifestações sociais que ocorrem no meio comunitário, como
movimentos estudantis, antirracistas, feministas, ambientalistas, pacifistas,
por exemplo.
Para algumas
classes de trabalhadores, onde hoje os sindicatos são muito burocratizados,
como bancários, funcionários públicos, associações de policiais militares, esse
processo será mais difícil, o que é uma perda mensurável frente ao número de
trabalhadores que representam e sua influencia benéfica que teriam nos demais,
se adotassem um comportamento mais coletivo e menos corporativo.
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