sexta-feira, 3 de julho de 2020

Organizações sindicais e a política socialista (por: Gabriel Beserra)


Sindicato deve representar toda a categoria indistintamente    

     A formação do sindicalismo ocorre em meados do século XIX através da luta operária com a formação da classe trabalhadora na revolução industrial, a partir das péssimas condições de trabalho e baixos salários, os operários, principalmente na Europa, se organizaram em buscas da defesa de interesses homogêneos.

     Mas essa formação nunca foi, de fato, um braço direito de uma formação global do pensamento socialista e da luta das massas frente as injustiças sociais, e pouco representou, para além dos interesses das próprias classes operárias, os anseios da sociedade subjugada pela burguesia capitalista.

     Com a modernidade houve a formação de uma espécie de sindicatos corporativos, um chamado sindicalismo de mercado, que possui características pouco socialistas, como: a busca apenas dos interesses coletivos daquela classe e sua afirmação de identidade; uma tensão entre a defesa de seus interesses e as demais lutas mais gerais contra a opressão; a priorização nas suas relações ‘normais’ de emprego com a formação de contratos de empregos permanentes e, finalmente, limitação das suas bases apenas no campo nacional e não mais internacional.

     Com o advento do Estado de Bem Estar Social os sindicatos, o patronato e o Estado, firmaram uma espécie de contrato, que garantiu alguns direitos a classe trabalhadora e criou mecaninismos que geraram a impressão da possibilidade de haver ‘mobilidade’ social ao trabalhador na Europa e EUA. Tais mudanças tiveram consequências significativas no sindicalismo, que passou a ser parceiro do Estado, e causou perdas da sua influencia junto às suas bases.

     Essa nova lógica canibalizou as velhas bandeiras do movimento operário, que acabou sendo um reforço a economia capitalista e a fragilização do sindicalismo (Santos e Costa, 2004).

     Diante desse cenário houve uma progressiva desfiliação, embora que no funcionalismo público manteve-se elevado, o que se liga ao desenvolvimento de lógicas neocorporativas nos setores mais estáveis. Há nessa classe mais estável uma espécie de pensamento que o trabalho lhe traz uma satisfação baseado no equilíbrio e status social. Porem esse cenário laboral entrou em decadência devido a instabilidade devido as dificuldades das empresas com redução de efetivos, reestruturações dos sistemas produtivos e até o fechamento completos dos postos de trabalho com a deslocalização de muitas empresas multinacionais.

     Essas constantes inseguranças causam desilusão e frustração da classe trabalhadora, um sentimento permanente de medo, e distanciamento da vida coletiva, fechando-se em si próprios ou só extrapolando para a vida familiar. Essa frustração, mesmo sendo baseada em fatos até mais fortes que no passado, geram a procura de soluções individuais em nível profissional, e dificulta a ação coletiva.

     Porem, como toda ação tem reação, a reflexão coletiva e a sensibilidade em relação a questão da precariedade podem fazer emergir uma nova tomada de consciência que conduziria a novas lutas organizadas, e que precisará gerar uma reforma organizacional desse importante instrumento de mobilização social que é o sindicalismo, devendo se afastar desse modelo atual burocratizado, organizado, que existe apenas para sua própria manutenção e interesse de sua cúpula funcional, devendo, em alguns casos, de novas formações, desde seu início, para que possa se aproximar, novamente, do interesse coletivo, e das demais novas formas de manifestações sociais que ocorrem no meio comunitário, como movimentos estudantis, antirracistas, feministas, ambientalistas, pacifistas, por exemplo.

     Para algumas classes de trabalhadores, onde hoje os sindicatos são muito burocratizados, como bancários, funcionários públicos, associações de policiais militares, esse processo será mais difícil, o que é uma perda mensurável frente ao número de trabalhadores que representam e sua influencia benéfica que teriam nos demais, se adotassem um comportamento mais coletivo e menos corporativo.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial