Democracia, só se for à dos Trabalhadores
(Trecho extraído
do Livro Reflexões Sobre o Socialismo de Maurício Tragtemberg)
"O
processo de acumulação capitalista depende de certas precondições relacionadas aos
trabalhadores. Estes devem:
a) estar separados dos meios de produção;
b) ter liberdade de vender sua força de
trabalho sem constrangimento escravista ou servil;
c) maximizar os lucros patronais, seja
estendendo sua jornada diária de trabalho, seja intensificando seu ritmo de
trabalho.
Esse processo, em sua totalidade, é
comandado pela lógica do capital, que procura integrar o trabalhador. O
trabalhador assina o contrato de trabalho porque não tem outra opção de
sobrevivência. Na fábrica tudo conspira contra a inteligência do operário,
expropriado dos meios de produção, dos frutos do trabalho e do conhecimento.
Integrado à linha de produção ou vinculado à máquina, o trabalhador constitui
“uma máquina” entre máquinas; ele perde a consciência.
A tomada de consciência ocorre quando o
trabalhador rompe o isolamento, cria uma forma coletiva de expressão. Uma barra
de ferro que interrompa a velocidade da linha de produção pode simbolizar sua
retomada de consciência; é uma reação objetiva contra a divisão de trabalho que
lhe é imposta, contra a disciplinação a que está submetido.
No universo fabril desenvolve-se uma
consciência operária ambígua: a contradição entre o egoísmo individual e o
interesse coletivo. A organização taylorista do trabalho, fundamentada na
propriedade privada ou estatal e na separação do operário em relação a seu
trabalho, visto como mera tarefa, produz o egoísmo, o isolamento e a submissão.
A revolta contra essa expropriação produz
a ideologia coletivista. O egoísmo aparece como produto do capital; o
coletivismo, como rebelião do trabalho. À medida que o trabalhador percebe que
o próprio processo de trabalho divide e, ao mesmo tempo, liga seus companheiros
pela cooperação, e que a conquista de qualquer reivindicação depende da união
de todos eles, verifica que o conceito “indivíduo” é um mito criado pelas
revoluções burguesas desde o Renascimento.
A cronometria do rendimento do trabalhador
e a separação entre trabalho intelectual, concentrado na gerência e no
planejamento, e trabalho manual, função do operário, implicam maior
produtividade para o capitalista e maior exploração do trabalho operário. E
isso acontece em escala universal.
O mercado mundial, criado pelo capitalismo
já em sua época monopolista, integra o trabalhador e sua família,
subordinando-os a esse mercado. O homem existe para o mercado, seja como
produtor direto seja como consumidor.
Essa internacionalização das relações de
produção capitalistas produz, consequentemente, a necessidade da organização
operária a nível internacional."
O texto acima reflete como nasce o problema da
desorganização dos trabalhadores, e como isso é aproveitado pelo empresariado
para sua exploração.
A solução é um pouco mais complexa, pois exige a
formação de diversos mecanismos dos trabalhadores, em forma de associações, que
podem vir com diversos nomes, como: comitês, conselhos, sindicatos, partidos
políticos, até chegar àquilo que se propõe na verdade, que é a democracia da classe operária, sem
intermediários, políticos profissionais, ou uma vanguarda que possa vir a
desvirtuar os propósitos da massa trabalhadora em prol de si mesma.
A democracia direta dos trabalhadores é a última e definitiva
forma de se fazer a luta de classes e cada vez mais o Capitalismo cria as
condições para que ela venha a ocorrer através dos meios tecnológicos já disponíveis.
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