sábado, 4 de julho de 2020

Democracia, só se for à dos Trabalhadores


Movimentos e entidades organizam neste fim de semana a 'Virada da ...
 
(Trecho extraído do Livro Reflexões Sobre o Socialismo de Maurício Tragtemberg)

"O processo de acumulação capitalista depende de certas precondições relacionadas aos trabalhadores. Estes devem:
a) estar separados dos meios de produção;
b) ter liberdade de vender sua força de trabalho sem constrangimento escravista ou servil;
c) maximizar os lucros patronais, seja estendendo sua jornada diária de trabalho, seja intensificando seu ritmo de trabalho.

Esse processo, em sua totalidade, é comandado pela lógica do capital, que procura integrar o trabalhador. O trabalhador assina o contrato de trabalho porque não tem outra opção de sobrevivência. Na fábrica tudo conspira contra a inteligência do operário, expropriado dos meios de produção, dos frutos do trabalho e do conhecimento. Integrado à linha de produção ou vinculado à máquina, o trabalhador constitui “uma máquina” entre máquinas; ele perde a consciência.

A tomada de consciência ocorre quando o trabalhador rompe o isolamento, cria uma forma coletiva de expressão. Uma barra de ferro que interrompa a velocidade da linha de produção pode simbolizar sua retomada de consciência; é uma reação objetiva contra a divisão de trabalho que lhe é imposta, contra a disciplinação a que está submetido.

No universo fabril desenvolve-se uma consciência operária ambígua: a contradição entre o egoísmo individual e o interesse coletivo. A organização taylorista do trabalho, fundamentada na propriedade privada ou estatal e na separação do operário em relação a seu trabalho, visto como mera tarefa, produz o egoísmo, o isolamento e a submissão.

A revolta contra essa expropriação produz a ideologia coletivista. O egoísmo aparece como produto do capital; o coletivismo, como rebelião do trabalho. À medida que o trabalhador percebe que o próprio processo de trabalho divide e, ao mesmo tempo, liga seus companheiros pela cooperação, e que a conquista de qualquer reivindicação depende da união de todos eles, verifica que o conceito “indivíduo” é um mito criado pelas revoluções burguesas desde o Renascimento.

A cronometria do rendimento do trabalhador e a separação entre trabalho intelectual, concentrado na gerência e no planejamento, e trabalho manual, função do operário, implicam maior produtividade para o capitalista e maior exploração do trabalho operário. E isso acontece em escala universal.

O mercado mundial, criado pelo capitalismo já em sua época monopolista, integra o trabalhador e sua família, subordinando-os a esse mercado. O homem existe para o mercado, seja como produtor direto seja como consumidor.

Essa internacionalização das relações de produção capitalistas produz, consequentemente, a necessidade da organização operária a nível internacional."

O texto acima reflete como nasce o problema da desorganização dos trabalhadores, e como isso é aproveitado pelo empresariado para sua exploração.

A solução é um pouco mais complexa, pois exige a formação de diversos mecanismos dos trabalhadores, em forma de associações, que podem vir com diversos nomes, como: comitês, conselhos, sindicatos, partidos políticos, até chegar àquilo que se propõe na verdade, que é a democracia da classe operária, sem intermediários, políticos profissionais, ou uma vanguarda que possa vir a desvirtuar os propósitos da massa trabalhadora em prol de si mesma. 

A democracia direta dos trabalhadores é a última e definitiva forma de se fazer a luta de classes e cada vez mais o Capitalismo cria as condições para que ela venha a ocorrer através dos meios tecnológicos já disponíveis.

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